quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ensaio Aberto 2 - Faculdade Dulcina






Primeiras fotos da apresentação.



Reflexão de um processo.

O resultado.

Esperei alguns dias para conseguir escrever sobre o processo. Precisei refletir, repensar, e analisar esse estágio da criação da performance Sabor – Primeiro recheio. No início do trabalho minha proposta era traçar uma relação etimológica da palavra Saber com Sabor. Ao ler o texto do Banquete, Platão me sugeriu uma forte ligação da disputa do conhecimento com os autores do texto. Todos falavam, competiam, triunfavam numa tentativa de ter o maior conhecimento ou saber sobre o Amor. Minha primeira relação com o texto foi de impaciência com essa prepotência de tornar algo tão abstrato em palavras e definições. Meu caminho foi traçado por uma serendiptidade do processo. Ao passar dos ensaios ainda sem conseguir entender o que buscava com esse conceito, fui lançando provocações aos participantes: Qual seu limite enquanto artista? O que representa o Amor pra você? Você já amou? Uma loucura por amor? Frases ainda sem um contexto com o trabalho. Chegou determinado momento que precisava vê-los criar sozinhos, eles mostrarem as referências artísticas próprias. Comecei a passar tarefas a serem realizadas por eles como dever de casa, pequenas performances, cenas, estímulos, filmes, tudo aquilo que enriquecesse o universo deles. O material começou a se tornar mais íntimo e agressivo, onde a cada momento um grau de exposição, intimidade e confiança foi surgindo. Em determinado momento me vi sem rumo, sem destino com tudo aquilo de material que eles traziam. Começamos a traçar uma dramaturgia a partir de palavras, de estados, de sentimentos e a tentar estabelecer relações entre eles. Comecei a me afastar da proposta inicial de tentar abordar a relação corpo/comida/sabor/saber e a partir para o prazer, o sabor da dor, o amor proibido, o amor sujo de comida que se torna sujo de valores, a entrar na zona do escatológico, o devorar-se, devorar o outro, oferecer –se. O grau de intimidade e entrega dos performers foi fundamental nessa etapa do trabalho, ao mesmo tempo que eles apresentavam dúvidas sobre o que ocorria em cena em relação a atuação. Assumir a performance enquanto obra, aceitar o corpo enquanto material e mídia daquilo que estava sendo construído. A nudez surgiu como peça fundamental e necessária para o trabalho. Sempre condenei qualquer tipo de auxílio antes de entrar em cena, para esse trabalho era exigido que cada intérprete bebesse uma garrafa de vinho para que todo o vinho do banquete fosse surgindo de dentro dos intérpretes. Se Platão apresenta um discurso verborrágico, vomitado sobre o amor, eu em minha prepotência de criador, devolvo e brindo a morte de Platão com o vômito dos performers e vinho fermentado de seus corpos. Eu devolvo a Platão o recheio de que somos feitos, vômitos, prazer, urinas, salivas e desejos. O Sabor – Primeiro Recheio tornou-se um trabalho indo contra a Platão, propondo apresentar aquilo que nos recheia e nos torna desejo, carne e censura. Apesar de todo o percurso de crises, serendipidades, esse trabalho me marca na possibilidade de fazer algo que eu acho feio, sujo, nojento, mas que nele ainda exista uma poesia e uma reflexão, e a possibilidade da aceitação de tornar arte aquilo que eu não abordaria ou teria curiosidade.

Ensaio Aberto 2 - Faculdade Dulcina








segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ensaio 11 (ensaio aberto)

Hoje realizamos mais um ensaio aberto. Dessa vez o objetivo era apresentar para pessoas que desconheciam o trabalho. Resultado, quatro saídas para vomitar do público. Os comentários eram bem interessantes ao final. Comparavam os performers a animais, a sujeira, esgoto, a nudez não mais incomodava, mas era bom de olhar o corpo naquele estado. Já os performers foram muito bem, mas perderam um pouco o controle ao final da performance, muito vômito e o cheiro muito forte na sala. Optei por fechar as janelas para o cheiro permanecer no local misturado a comida, foi bem difícil permanecer nesse ambiente. O interessante de observar é que cada vez mais consigo traçar o discurso da performance. O prazer antes questionado na sala não é para o público, mas para os performers. O vomitar é devolver a Platão todo aquele discurso verborrágico e cansativo. É o corpo orgânico devolvendo ao mundo seu recheio, todos seus prazeres de forma verborrágica e "vomitativa". A opção pelo arroz e feijão foi uma maneira de aproximar todas as classes, todos os paladares, todas as refeições, do mais pobre ao mais rico, aquela comida que todo dia devoramos cegamente e cotidianamente. Dúvidas...ainda me pairam para algumas coisas..nada está certo totalmente.

Ensaio 10

Hoje o ensaio foi mais "burocrático". Limpamos, discutimos, conversamos e analisamos o que havíamos feito e para onde iríamos. Decisões difíceis de serem tomadas, cenas cortadas, cenas adaptadas e cada vez mais descendo a ladeira. O mais importante é ter a consciência do que está sendo feito e me manter na minha proposta.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Ensaio 09 (ensaio aberto)

Hoje fizemos um ensaio aberto pra turma. Confesso que a ansiedade foi bem grande, colocar a prova todo um processo que está sendo amadurecido ainda, longe de chegar a etapa de "mostragem". Elenco ansioso, porém muito entregue. Me surpreenderam nas cenas, e como sempre, alguns erros de estrutura, a perda do tempo da cena, nada que não possa ser trabalhado. Alguns pontos foram levantados e observados. O vômito afasta as pessoas, mas ninguém deixa de assistir, cria-se um ambiente quase constrangedor pelo que está sendo mostrado em cena. Um dos orientadores não acha agressivo, queria mais, ainda existe uma economia. Outro orientador comentou sobre a qualidade dos movimentos, o que de fato pode vir a ser trabalhado. Em suma, a performance precisa amadurecer ainda mais, o que de fato ocorrerá com o tempo de ensaio e fixação de roteiro, mesmo assim, sinto-me honrado por onde consegui chegar com o elenco. O vômito no chão foi bem interessante, onde vai aos poucos se misturando com as comidas e com os corpos dos performer´s.

Ensaio 08

O ensaio de hoje foi a nova versão da performance. Após muita reflexão, optei pelo caminho que já estava sendo refletido. Meu objetivo não é retratar o amor nuvem, e sim ir em um lugar menos confortável pra mim. Não me interessa buscar caminhos fáceis, e sim ir naquilo que evitam trabalhar, que evitam falar, e que evitam até assistir. Quero o feio, aquele local do nojo, quero ir contra Platão.Sempre quis. Experimentamos a nudez com a comida. Cada vez mais percebo que esse texto do Banquete, é um vômito discursivo, quatro homens vomitando e competindo quem melhor reflete um tema. Texto machista, chato e vomitado. A performance puxou uma nova estrutura, mais de ataque direto, mais ofensiva. O prazer belo se transformou no prazer da dor, da carne, do sexo, do nojento. Estruturamos a performance com uma atriz a menos, que por motivos de incompatibilidade de horário precisou sair do processo, mas nos acompanha da mesma maneira com contribuições intelectuais. Experimentamos o vômito enquanto estrutura de cena. Novo roteiro, novo vinho, mais agressivo.Eu gosto do nojento.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Foi você o erro mais bonito que eu cometi

Faz tempo que ando assim, suspenso. Faz tempo que me vejo bobo, indeciso e sem graça. A cabeceira da nossa cama continua no mesmo lugar e agora não existem mais motivos pra consertar ou trocar. Lembro que no início eu te prometi uma cama nova, uma big size king master dessas que te daria espaço, que me permitiria buscar a pipoca que apitou no microondas e te ver esparramada, dormindo no meio do filme quando eu voltasse. Como você conseguia estar frenética e faladora num instante e logo em seguida - e era só eu virar as costas- estar dormindo? Serena. Fingida. Calma? Plasma, pálida, pueril. Fazendo cena pra eu ver. Você: vedete do meu cinema. Eu: seu público fiel.
O meu erro foi não entender a sua identidade mutante, cambiante. Seu doce azedo imprevisível. O seu "não quero mais". Eu nunca soube o que esperar dos seus cabelos.
Lembro de me surpreender com seu conforto com a cama pequena. "Assim a gente fica mais juntinho", você dizia sem saber que eu morria de medo de te sufocar (na cama, no beijo, em tudo) e passava horas apertado contra a parede só pra te dar espaço, só pra admirar a mansidão do seu sono, único momento em que você era minha de verdade. Havia qualquer semelhança com o que é frágil, como a bailarina da caixa de música que você tanto odiava.
Mas hoje a gente sabe, moça, que quem quebrou foi a cama de solteiro que reflete direitinho o estado no qual eu fiquei quando deixei você ir embora.
A gente sabe que desde que te vi, de vestidinho preto e sapato esquisito cantarolando alguma coisa ininteligível, que as coisas estavam claras como nos filmes: aquele seu jeitinho de boneca malvada ainda ia ser a minha ruína. Você me ganhou quando perguntou sorrindo se o ônibus passava por ali. Eu, um estranho, e você sorriu pra mim. Eu te escolhi ali naquela parada de ônibus e nunca soube entender direito como você me escolheu de volta.
Um dia eu esqueci o nome de tudo o que me cercava, tentei lembrar os nomes que te dei, mas havia esquecido todos eles. Fiquei vaidoso em não te querer mais, mesmo sabendo que te queria mais que aquela coletânea dos Beatles.
Me senti grande e forte em te fazer chorar.
Mas existem as músicas e os bilhetes do metrô. E eles me lembram que você foi o erro mais bonito que eu cometi. Tem sua escova de dentes na pia, do lado da sua coleção de esmaltes -todos verdes, "não sei porque você tem tantos esmaltes iguais" ... " não são iguais, amor, é verde mar, verde militar, verde selva, verde malte"
E agora que tudo acabou, agora que minhas mãos estão suspensas, imóveis, agora que me assumo sujo e feio, entendo a lógica cruel desse jogo. Eu que tinha tanto medo de te chamar de amor, um dia desses gastei uma caneta bic inteirinha escrevendo essa palavra de quatro letras no meu corpo como quem marca o gado a ferro.
Aí eu escolho um desses festivais que você sempre vai -péssima escolha- e tento falar com você, que só me olha com aquela cara de "estou feliz com meus novos melhores amigos temporários" que só você tem. Maldita.
Faz assim: não me olha. Faz melhor: só me olha. Me olha com essa sua cara de tanto faz pra que eu tenha certeza de que a gente nunca aconteceu. Você não sabe, mas eu andei te olhando de longe e você estava com essa mesma cara de "sou doidinha, está tudo bem" enquanto desmoronava por dentro, que eu sei.
Eu olho você e tento ver mais uma vez v essa sua armadura estúpida de garota bem resolvida com a qual a gente só tem uma chance. Pra minha surpresa, te vejo deslizar tão tranquilamente pelos lugares, pelos grupo de amigos dos amigos, que tenho medo.
Isso te coloca tão distante de qualquer ser de all star e barba por fazer, que mesmo que você sorrisse gentil e maliciosa, haveria alguma coisa a temer. Seus cabelos talvez. Havia alguma coisa naquele seus cabelos que me intimidava. Havia alguma coisa na vermelhidão esvoaçante dos seus cabelos que me dizia- e dizia a todos: não erre, você só tem uma chance.
Você é estranha. Seus quadris falam quando você anda e isso me dá medo, garota.
A máquina do tempo do filme da Sessão da Tarde talvez fosse útil pra voltar agora àquele momento em que eu te quis na minha mão só pra te quebrar, porque a bailarina da caixinha de música era você.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Experimentação:


ESBOÇO PARA ORGIA FINAL - Versão roupa de baixo
Obs: a versão final será sem roupa.

Experimentação



Curiosidades

A título de curiosidade a respeito dos nossos visitantes:


Brasil- 724
Alemanha- 23
Rússia- 14
Estados Unidos- 6
Portugal- 3
Canadá- 1
Espanha- 1
México- 1

Ensaio 07

O ensaio de hoje foi estimular o elenco a dirigir sua visão do Banquete. Cada um deveria dirigir cerca de 20 minutos (tempo da trilha sonora). O primeiro intérprete utilizou máscaras e a submissão sexual. Foi bem interessante a imagem erótica que a máscara trouxe. Outro fator interessante na submissão foi o resgate da imagem dos animais com a língua pra fora com uma dominadora conduzindo. Outro ponto apresentado nessa direção foi o devorar dos alimentos em cima do corpo do outro. Em determinado momento senti uma necessidade de assumir as rédeas da direção pois imagens e situações interessantes iam brotando e eu precisava criar uma costura com aquele material. Experimentamos fragmentos de cenas, algumas ligações, e marcamos o início do trabalho. A experiência da orgia final foi coreografada também. Dentro dessa coreogrfia final experimentamos a cena com roupas de baixo e nús, já pra acostumarmos com o toque do corpo do outro e com o contato dos corpos entre si. Nos próximos encontros os outros intérpretes dirigirão seus respectivos 20 minutos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sonhar




Esta noite eu estava dentro da bolha que é formada na ponta de uma folha, La dentro era tudo lindo, eu sonhava,sentia, vivia ...
Dentro da bolha eu tinha meu próprio jardim,gostava mais de girassois, até por que eles faziam o papel de sol dentro da pequena bolha.eu correia entre eles, tentando criar um vento bem forte, para manter o ar da bolha mais agradável, eu fazia isto todos os dias.
Até que um dia, decidir não fazer nada, afim da bolha ficar bem coloridinha até ser desfeita...
Ela então foi desfeita,eu cair por horas, flutuava entre as outras folhas e bolas, mas daí em dei conta que todas as pessoas que estavam na suas bolhas tinham feito o mesmo, percebir
Que lindo que é sonhar
Sonhar não custa nada
Sonhar e nada mais
De olhos bem abertos
Que lindo que é sonhar
E não te custa nada mais que tempo...

Paula Toller e Leandro Rocon ...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ensaio 6

O último ensaio foi o momento mais forte de experimentação.Poucas palavras ao chegar e já nos entregamos à pesquisa.A partir de rolinhos e apoios no chão, os performer´s começaram a explorar todo o espaço da sala movendo-se, chegando a uma exaustão. Permaneceram 30 minutos em atividade intensa, sem pausa, nem descanso. O objetivo era inseri-los num estado performativo a partir do cansaço do corpo, onde as defesas começam a cair e o corpo a reagir psicofisicamente, novas aberturas criativas. Após um ápice na exaustão, o grupo foi ao oposto, a câmera lenta e o controle muscular. Nesse momento da retenção de energia, o grupo permaneceu 20 minutos, reagindo positivamente a estímulos que iam surgindo. Após a exaustão pedi a dois performers que se posicionassem de pé abraçados. A tempos queria testar uma imagem de nudez. Uma das performers ia despindo os dois abraçados. A imagem da roupa sendo tirada não foi interessante, mas os dois corpos nus abraçados tinham um impacto maravilhoso, indo de uma admiração das curvas à anulação do corpo. A medida do tempo, os outros performers iam se despindo e se unindo a esse abraço. Mais uma vez a imagem era impactante com o abraço coletivo. Aos poucos o grupo foi buscando chão, e num movimento de passar entre o corpo do outro, iam transformando-se em massa humana, bem interessante também o corpo disforme. Após a experimentação do nu, discutimos o procedimento que teve opiniões diversas, uns se sentiram “estuprados”, outros a vontade, outros libertos. Após a discussão, caa integrante apresentou sua cena. Pude finalmente conferir o “vômito” em cena. Um dos intérpretes realizando sua cena, envolvido com o alimento e sua textura nojenta acabou por vomitar em cena, o que gerou uma imagem também interessante para se abordar. Cada vez mais me interessa essa visão sado masoquista, fetichista e subordinada, porém, a visão nuvem também me ronda enquanto composição coreográfica. O que será ao final? Uma incógnita...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Vaivém

Eu tinha tudo na mão e agora ando meio calado e mutante. Eu aprendi que, nos relacionamentos, com as verdades não se brinca. Meio que rindo, chamei você pra morar comigo, meio choramingando você disse que era melhor não. Os dias degringolaram, ninguém mais se entendeu, a gente deu um tempo indeterminado. Mas as coisas continuaram acontecendo.

A cafeteira nova que eu comprei que não supera a antiga no quesito imitar a voz do Tom Waits na hora de passar. Algumas noites passo lá embaixo e vejo sua luz acesa. Grudada na parede frontal da minha memória tem uma fotografia daquele seu conhecido sorriso de chegada, aquele de longe, a meia boca, doida e apaixonadinha por mim. No prédio em frente ao meu um casal briga, vejo os lábios dela mexerem, mas nunca consigo entender nada. Eu fico imaginando como dizer se é muito cedo pra telefonar e dá na caixa de mensagem e eu sinto uma puta vergonha de chorar feito homem na mesa daquela nossa temakeria de sempre, a dos sábados meio-dia.

Mas as coisas continuaram acontecendo. Meu curso de gastronomia para acampamentos, o colega que namora uma garota que tem uma amiga pra apresentar chamada Raquel que é loira, tem 21 aninhos, usa jaqueta e shortinho e também curte Pavement e outros, mas não ando muito a fim desses troços de encontro. Já sei que sexta vou foder de forma insana e descompromissada uma louca à toa com sobrancelha mais escura que a tinta no cabelo, e depois vou pra casa dormir até tarde. Você foge da minha intensidade, e mal sabe que também posso ser bem superficial, se eu quiser. Parei de fumar pela quinta vez hoje. Passo na frente do Abbey Road Bar e não arrisco entrar. Por onde vai você?

E as coisas continuam acontecendo. O alarme de um carro toca sem parar. Você ouviu de alguém que ando deprimido e ficou contente e perguntou mais coisas sobre mim que eu sei, também tenho minhas fontes. Você se tornou uma pessoa totalmente diferente depois que eu mudei muito. Lembro você e tenho febre. Na orla, os navios soltam fumaça de despedida do cais. Eu corro sem sentir as pernas. Furo no meio de uma dupla de gatinhas fazendo jogging na direção contrária. Não posso explicar, mas me dá uma sensação que está tudo bem, de verdade. Posso me sentir mudando pra melhor, sei que estou esquecendo, tudo passa, eu passeio. Meu personagem não convence.

Aí seu pai resolve morrer e pega todo mundo de surpresa. Parece que o Doutor falou enquanto tirava as luvas cirúrgicas que deu o máximo de si, mas infelizmente. Nada é, tudo está.

Você vem. Eu sei que você sabe que eu sei que só eu sei como te tranquilizar no primeiro abraço. Soluça no meu peito e encharca minha camiseta do Manchester United que eu trouxe de lá. Não entendo o que você grita. Não parecia, mas o velho gostava de mim, sei pelo LP do "The Dark Side Of The Moon" que ele achou na garagem e mandou perguntar se eu queria ou então ia pro lixo. E quando ele ficava puto porque eu estacionava no portão? E quando ele dizia naquele tom rústico e colonial "tu cria uma filha com todo cuidado pra ela se apaixonar pela pessoa errada", aí balançava a cabeça e dava um gole no vinho tinto dominical.

Seus olhos de semáforo me fogem: não. Me olha e pisca lento: atenção. E depois desvia a pupila pra esquerda: pode vir. Não é culpa nossa, quando a gente vê, tenho minha língua na sua virilha sem recordar o primeiro toque no braço. É tão pra ontem esse querer que eu queria penetrar direto pela veia. Você finalmente pega no sono e me faz prometer que não vou soltar sua mão. Chega uma hora que a verdade dá as caras e eu te tenho em mãos, mais uma vez. Não está tudo bem agora, pequena. Mas vai ficar.

É como um balão de gás helio. Solto no céu, chama atenção. Preso na mão é só um enfeite. Deixa voar, quem sabe ele volta pra tua mão.


Gabito Nunes

sábado, 29 de outubro de 2011

Mulher que diz tchau

Levo comigo um maço vazio e amassado de Republicana e uma revista velha que ficou por aqui. Levo comigo as duas últimas passagens de trem. Levo comigo um guardanapo de papel com minha cara que você desenhou, da boca sai um balãozinho com palavras, as palavras dizem coisas engraçadas. Também levo comigo uma folha de acácia recolhida na rua, uma outra noite, quando caminhávamos separados pela multidão. E outra folha, petrificada, branca, com um furinho como uma janela, e a janela estava fechada pela água e eu soprei e vi você e esse foi o dia em que a sorte começou.
Levo comigo o gosto do vinho na boca. (Por todas as coisas boas, diziamos, todas as coisas cada vez melhores que nos vão acontecer.)
Não levo uma única gota de veneno. Levo os beijos de quando você partia (eu nunca estava dormindo, nunca). E um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação, podem dizer a ninguém o que foi.

Eduardo Galeano, em Vagamundo.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Moldura



Numa moldura clara e simples, sou aquilo que se vê ...E você ! como se vê ?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011


Eu gosto do seu corpo
Eu gosto do que ele faz
Eu gosto de como ele faz
Eu gosto de sentir as formas do seu corpo
Dos seus ossos
E de sentir o tremor firme e doce
De quando lhe beijo
E volto a beijar
E volto a beijar
E volto a beijar

E.E Cummings

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Experimentação:


Pregadores: exercício realizado dentro da ASQ Cia de dança.
Trilha: Cláudio Lins - Espetáculo Dalí.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Experimentação:

Experimentação:


Instinto Animal

Sinto na pele
A saliva da tua língua
Os mamilos duros
A tua vagina
Vem até mim
Vem masturbar-me
Chupar-me até me vir
Vem sem parar
Deixa-me segurar
No teu cabelo
E penetrar
Quero vir-me
Onde estás molhada
Com desejo e pronta
A ser possuída
Sem lutar
Vem ter comigo, vem perder-te comigo, não faço promessas
Mas posso fazer-te perder em orgasmos fulminantes e provares o meu doce esporrar… Leandro Rocon





temores e incertezas



Sinto meu corpo sendo arrastado pelos anos
E a correnteza dos acontecimentos, me fazem flutuar pelos caminhos
Rodeada de temores e incertezas
Vejo no novelo de lã, a esperança de que os dias frios se desencadeiam.
De que a garoa se estabilize e faça presente nos nossos contos!
Vislumbrar as desvairadas damas soteropolitanas
E me alimentar dos cheiros doces que exalam de seu corpo esguio!
Finalmente recuperar a essência de me sentir vivo e de ainda sentir fascínio pelo novo!
Shirley Souza! Leandro Rocon ...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ensaio 5

Ensaio mais leve..Creio que ao passar do tempo, dos ensaios, começou a surgir uma inquietação de como transformar tudo isso em "cena". Confesso que passei a semana pensando em começar do zero, ir para algo mais firme a meu ver. "Ceninha" bonitinha, bem feitinha, redondinha. Porém escutando a trilha, e relendo todas as anotações, confesso que a cabeça deu um nó, uma explosão, e depois virou a calmaria. A meu ver, esse discurso de Platão é uma destruição do Amor. No momento em que defino que isso é amor e isso NÃO é amor, transformo em palavras uma sentimento, ou melhor, traduzo intersemioticamente uma experiência pessoal. Cheguei a definição de que todo aquele discurso platônico sobre o AMOR, nada mais é do que uma destruição do próprio numa tentativa de construção. Eis que surge uma luz à criação. As experiências começaram a seguir uma linha mais destrutiva do amor, do tesão. Não me interessa falar do amor nuvem, por mais que eu ache lindo, prefiro ir no conflito, naquele ponto o qual as pessoas pulam: o sexo. Todos sentem prazer, tesão, se masturbam, já assistiram algum filme pornô, já pensaram coisas proibidas, enfim, todos já passaram pela zona proibida ou não falada, pelo menos nós do elenco, rsrs. Como exercício, pedi a todos que apresentassem cenas românticas, e todas, exceto a de um dos performers, seguiu a visão do amor nuvem, que apresentava uma coisa quase "brega", e isso era bacana de ver, pois mesmo os que rezlizavam a cena demonstravam aquela sensação de: Que coisa brega eu estou fazendo? Por causa dos elementos, dos textos, das intimidades utilizadas como cena. Não era ruim, até por que acredito que tudo é material, sem julgamentos de valor, mas esse brega é como eu enxergo esse amor nuvem, enquanto diretor. Foi um bom experimento, até por que saíram coisas bem diferentes e que podem ser utilizadas, e mesmo não sendo usadas, serviram enquanto exercício artístico. O aquecimento foi com brincadeiras infantis, subir em árvore, pique-pega na árvore, pique-alto, jogos que exigiam fisicalidade, porém também cumplicidade entre eles. Dentro da sala, realizamos o exercício do cego, onde o grupo inteiro, exceto um integrante, fecha os olhos e andam pelo espaço, deixando toda a responsabilidade de não bater na parede ou entre si, naquele que permaneceu de olhos abertos. Bem proveitoso, algumas batidas, mas confianças reforçadas. Após esse exercício, realizei um percurso em câmera lenta, dificuldade já demonstrada pelo grupo todo. Durante o exercício fui tranformando-o naturalmente em cena, onde alguns integrantes filmavam outros que buscavam seduzir as câmeras de quem o assistia (esse da câmera de filmagem é realizado dentro da Cia AntiStatusQuo, porém com outra versão). Primeiro uma das meninas utilizava essa sensualidade, e durante sua cena molhei todo o cabelo dela. Uau! A cena ganhou uma dimensão enorme!Ela permaneceu quase 40 minutos apenas jogando cabelo no corpo, e usando as câmeras. Durante a cena dela outra performer mulher se uniu a ela. Eram duas mulheres explorando a fisicalidade, a expressividade e a sensualidade feminina. A partir desse momento naturalmente as cenas e propostas iam surgindo. Cada momento um integrante se unia ao improviso. Certo momento eram dois homens e uma mulher, todos bebiam o vinho, a quantidade que quisesse, e interagia. Momentos de submissão, sensação de voyeur, de humilhação, de provocação, e a percepção de que apenas o insinuar tem o peso na cena, não precisa realizar o ato, mas a provocação em si já é o bastante e interessante. Certo momento o jogo ficou mais forte com a agressividade. Um dos performers permanecia de olhos vendados enquanto outros poderiam abordar seu corpo da maneira que quisesse. As reações agressivas, mais tensas foram bem bacanas também. Outro experimento bem forte foi com a tinta. dentro de um pote os performers mergulhavam o rosto, esfregando-o e lambuzando-o totalmente dentro do pote. Ao levantar, sem blusa, a tinta ia escorrendo pelo pescoço, peito, traçando veias escuras ao mesmo tempo em que se colocava um ovo cozido dentro da boca. A medida que o ovo ia sendo mastigado, e caindo pela boca, por cima da mancha preta, surgia uma sensação fúnebre..Pra mim essa imagem era a destruição da vida, do outro, do amor..Ou eu destruo o amor, ou ele me destrói.

Experimentação:

Veja-me



Nada que seja cômico na metade de uma maçã , cômico seria tomar por maçã inteira a metade de uma maçã, não há contradição no primeiro caso, há apenas no segundo.Se tomarmos a sério o dito de a mulher é a metade do ser humano, a mulher não nos parecerá cômica na estranha situação do amor.O homem , pelo contrário , que goza de consideração social porque é um ser completo, torna-se cômico quando de repente se deita a correr em busca da mulher e prova assim que não deixara de ser apenas metade do ser humano. quanto mais refletimos tanto mais nos parecerá divertida a situação, porque se o homem é realmente um todo,na situação de amante deixa de o ser, ou então forma com a mulher muito mais que uma unidade. Não estranhemos pois que os deuses se divirtam, à custa do homem. Quando os amantes, como dois pombinhos, voam pelos céus em núpcias deliciosas, podemos acreditar que eles querem uni-se, ser uma unidade, já que dizem querer viver um para o outro pelos tempos sem fim.Mas -é curioso , em lugar de viverem um para o outro , vivem, sem que disso suspeitem, apenas para a espécie. Que é uma consequência?Se,quando surge, não podemos relacionar com a antecedência, parece-nos então uma brincandeira, e as pessoas a quem tal acontece tornam-se muito ridículas.Quando duas metades, que estavam separadas, finalmente se juntam, parece que nisso encontram satisfação e motivo para repouso,assim não é, porém, no amor, do qual resulta a agitação para uma vida nova. Sr KIERKEGAARD. Leandro Rocon

O Amor e a Moça

Pinta os lábios para escrever a tua boca em mim.

O Que Houve com o Nosso Amor?



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Grande Museu das Inutilidades


Todas as coisas espalhadas pelo chão do quarto demonstravam quem eu era. Os papéis jogados, as roupas amassadas, as cartas esquecidas, a poeira acumulada faziam parte do quebra cabeça caótico e evidente que eu me tornava. Às vezes acredito que as coisas nossas não falam apenas de nós como para nós também. E aquelas coisas bagunçadas eram o sinal claro do abandono que morava em mim. As coisas não estavam certas. Eu, que sempre fui tumulto, sentia a necessidade real de colocar as coisas em gavetas, as coisas, as pessoas, os sentimentos. Cada coisa em seu lugar. Colocar na caixa dos papéis todos os papéis, separar a roupa suja, a cara limpa, as mãos vazias, jogar fora tudo aquilo que não cabia mais. Ou escolher aquilo que não serve, mas que merece ser guardado com carinho e cuidado. Talvez algumas coisas não precisem de gavetas e sim de baús. Outras muito poucas merecem redomas, relicários.
Mas com tudo confuso, jogado, é difícil definir ou perceber o que realmente tem valor. Escolher o lugar, decidir onde ir: "e você, bilhetinho tão antigo, lixeira ou coração?" E se eu errasse? E se conservasse tudo aquilo que era inútil? No fundo foi isso que sempre fiz: construi um grande museu de inutilidades. Estava cercada de tudo o que importava, mas que nada valia.
De repente tudo fez sentido. Entendendo a lógica daquele lugar foi parar concretamente na dimensão do invisível. Meu quarto se tornou onírico e enorme, eu olhava para o alto e não conseguia enxergar o fim. Era a concretude da metáfora, eu estava no Grande Museu das Inutilidades.

No Grande Museu das Inutilidades moravam coisas velhas e coisas muito muito velhas. O Grande Museu das Inutilidades tinha muitas galerias. Na Galeria das Palavras moravam os elogios não ouvidos, as lembranças escritas, os bilhetes secretos, os falsos gemidos e os amores sussurados. Na Galeria das Palavras encontrei um caderno escrito GRAÇA com uma frase entre parenteses na capa que dizia "Me senti agraciado". Dentro do caderno estavam todas as vezes em que fui segura, leve e graciosa. Santa Eu mesma Cheia de Graça. O caderno cheirava a vento e tinha gosto de boca. Quando aberto revelou o dia em que amei o Poeta, a noite em que dancei de salto pela primeira vez, meu corpo nu na piscina numa tarde muito quente.
Respirei com gosto de delícia. O caderno se fechou.
Subindo e subindo escadas me vi dentro do Salão do Movimento. Era sorte estar ali, pois como o próprio nome sugere, essa ala do museu mudava sozinha de lugar. Dentro dele estavam grandes quadros que mostravam cenas curtas, todas com a mesma legenda:
"Movimento: do latim movimentu, ato de mover, trocar de posição. Mudança pela qual um corpo está sucessivamente presente em diferentes pontos do espaço. Ação, variedade, animação"

Nos quadros a queda de bicicleta que me rendeu um braço quebrado e um gesso no braço e desenhos no gesso. As borboletas miudas e os peixes multicoloridos que me saltavam infinitos e incontroláveis dos cabelos, do vestido, do sexo, da boca, toda vez que a minha primavera chegava. A queda no cascalho. O choro no meio da chuva. O amigo que dançava balé. Estava tudo lá. Abandonei minha condição passiva de visitante e comecei a girar contagiada pelo ritmo, caindo assim na armadilha da sala que se moveu ardilosa para outro lugar.

Explorei todas as galerias. Na Ala do Desalento encontrei as cartas que nunca mandei. No Hall da Vergonha as minhas feiuras, o medo de errar, a resistencia em sorrir pras fotos, os dentes tortos.
Minhas memórias: minhas memórias inventadas. A invenção colossal da realidade.

Nas Memórias Inventadas o mercado de pulgas dançarinas, a estrela que nunca fui, o navio pirata que me carregou pelos sete mares: tudo que me tirava a certeza, tudo o que era deliciosamente fabricado. O Banquete infinito do meu desejo... Nas Memórias Inventadas uma caixa escrito Desamor e dentro dessa caixa estava você.

.Bárbara Figueira.

Pensando.


Kylie Minogue - All the lovers.

sábado, 8 de outubro de 2011



O Anticristo - Lars Von Trier.. O clima, a dinâmica, o amor, o sexo, e a perda. Qual o limite do intérprete?

Os Idiotas - Lars Von Trier


E quando nos sentimos ridículos ou idiotas? Trecho do filme OS IDIOTAS de Lars Von Trier.

Ensaio 4

Ensaio agressivo.
O aquecimento hoje foi diferente. Eu quis trabalhar uma concentração e um foco na atenção. Levei os 4 atores de hoje para as árvores da UnB. O objetivo era correr na raíz das árvores, pisando em cada raíz, forçando-se a encarar a instabilidade do solo. Pique-pega, corrida em dupla, tudo o que pode explorar de movimento e ação naquele espaço. Ao retornar à sala, abordei uma discussão a respeito da estados emocionais como objetivo pra essa performance do Banquete. Meu objetivo não é a utilização de personagens e sim estados de presença. Após essa discussão, realizei um exercício performativo criado e trabalhado anteriormente na AntiStatusQuo dirigido pela coreógrafa Luciana Lara. O exercício consiste em colocar no corpo dezenas de pregadores de roupa que o performer deveria retirar sem utilizar as mãos , apenas por meio do movimento. A experiência de assistir e registrar foi bacana por perceber principalmente nos mais novos a raiva, o contato com esse tipo de sentimento ainda não experienciado. Perceber a mudança do corpo com os hematomas, os blocos de vermelhidão espalhados pelo tronco. Registramos principalmente o após do exercício: como ficava o estado emocional do performer que deveria descrever o que estava sentindo naquele instante. Após os pregadores, os quatro performers sentaram em um banco lado a lado. Nesse instante foi solicitado a uma das atrizes que retirasse a blusa para experimentar essa banalização do corpo feminino, o que foi muito interessante pois o sexo virava um "nada" que não era sexual, nem erótico, nem pornográfico. Eles bebiam e comiam sorvete..Davam a comida na boca um do outro. Essa imagem é bem bonita, de dar alimento ao outro, ao mesmo tempo que quase sufocava o outro com a comida...Após esse improviso em duplas, eles estabeleceram relações. Um casal a cada bebida de vinho, se beijava, o outro a cada bebida, se agredia com um tapa no rosto. Essa imagem de violencia e romance era bastante instigante, ainda mais quando o casal do beijo transformou o beijo em mordidas, era erptico, sensual ao mesmo tempo inocente. Os tapas eram agressivos, humilhantes, ao mesmo tempo davam um prazer ao serem observados, cada hora queríamos ele mais forte, mais intenso, mais cruel. Depois o grupo passou para uma nva cena, colocar comida em um corpo deitado e depois devorar essa comida..A imagem me causou uma sensação animal, do corpo como um pedaço de carne. e sendo humilhado novamente. No momento em que a performer ficou em pé lançando a comida no outro performer deitado, causava uma mistura escatológica e nojenta, parecia restos do corpo dela. Após essa cena a experimentação foi feita com sorvete no rosto deixando ele derreter enquanto tinha uma pastilha efervescente na boca, que começa a transbordar um líquido amarelo pastoso. Mais uma vez a mistura de elementos e a nojeira no rosto traduzia uma sensação de expurgo, de liberação. Ao mesmo tempo que é nojenta, a cena traz um interesse pelo bizarro e nojento. Apos essa sessão, o grupo passou para a tarefa de se limpar sem utilizar as mãos, apenas se esfregando. Era essencial perceber que a comida parece ser absorvida pelo corpo, transformando-a em transparência. Foi mutio bom perceber a reação que a comida causa nos performers, que começam a ter ânsia de vômito, ou a querer sair da cena por achar tudo pesado. O limite sendo questionado.Onde termina a arte e onde começa o desnecessário?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Maldita Vênus em Capricornio (ou um conto erótico sem nenhuma sacanagem)

Era estranho porque dessa vez bastou uma coincidencia para que ela acreditasse. Saindo de algum lugar que não se lembrava mais onde era, entrou no carro decidida a ir pra casa. Escutava Tom Waits e sem saber porque quis voltar. "With charcoal eyes and Monroe hips" dizia a canção sobre essa moça, "Well I hope that I don't fall in love with you" cantavam seus lábios sem saber que previa cantarolando todo o amor que iria sofrer. Sofrer de amor, morrer de amor sempre existiu.
Estacionou num lugar barulhento, muita gente, estranhos lhe acenavam e enquanto a mulher negra cantava no palco com sua voz potente, enquanto uma jovem fumava um cigarro pela primeira vez, ela esbarrou no moço de dreads. Todas as garotas do lugar o desejavam. Ela não. Ela nem notou. Ela nem percebeu que aquele era o "cara lindo da banda totalmente demais". Ela nem sabia que uma semana depois seriam companheiros de trabalho, ele o novo ator, não sabia que dividiriam a cena, a dança, a música, a maquiagem, a água... que um mês depois a água dividida seria a da saliva da boca molhada no meio da seca daquele lugar. Depois da boca, a cama, o carro, e mais uma vez o palco, e mais uma vez o abraço, mas nunca nunca o amor.
Eram dois bichos, nunca fizeram amor, o amor é que os fez selvagens, indomáveis entre gritos primitivos e olhos que nunca paravam de se olhar. Eram livres, ele em sua mansidão linda e doce que revelava vez por outra um desdém que ela preferia não conhecer. Ela, dona de si, das suas contas, da sua música, dos seus sapatos, dos seus pés calçados em flor e cetim, dos seus cabelos, do seu humor ácido, sagaz, cruel. Dizem por aí que todo mundo quer viver um grande amor... desses que Hollywood ensina pra gente, desses de tirar o fôlego, o ar, os pêlos, desses de querer pra sempre. Eles não, ao menos não um com o outro. Sabiam de si, sabiam de si com o outro e do outro com o mundo: ela não podia ser de ninguém e ele só podia ser do mundo inteiro.
Vieram saídas, passeios, gargalhadas em dias de sol entre sorvetes que sujavam a boca inteira. Vieram histórias, vieram conversas, trocas, subidas silenciosas em árvores altas, banhos no lago, pés na água enquanto olhava aquele corpo tão tão bonito... veio um dia um "eu adoro essa música, dou ela pra você" respondido com um "a gente podia viajar, né?" e aquilo que era tão constante e tão despretensioso começou a crescer, e a pesar.
"Respirar e regar, pra crescer todos os dias". Mas aí aquele sentimento sem nome começou a tomar espaço demais."Não é natural?" todos diriam. Mas não, não se crescesse em apenas um deles. E nessa loteria do azar a escolhida foi a moça. "Não, não, não!!!!" ela repetia. Queria ser divertida, queria continuar brisa, raio de sol... nuvem não. E agora que estavam tão próximos porque estragar tudo com o egoismo de um sentimento tão sozinho, tão dela?
Não, não, não.
E se esforçava a cada encontro para parecer tranquila, falava de mil homens enquanto seu coração só sussurava "escolhe eu."
Chegou a tentar falar, mas ele talvez pressentindo a carga enorme que a sinceridade traz em si, ignorou. Não por maldade, mas por mansidão, aquela mansidão que ela já não achava mais tão bonita assim. E foi embora sozinho esse moço, pro show que prometeu assistir com ela.
"Não destruir nada". Decidiu com um sorriso falso. "Ok, está tudo bem" foi a solução estúpida que encontrou para que nada desmoronasse, além dela mesma.
Engoliu a seco. Era forte. "Isso um dia passa", pensou como todo fraco faz.
Aumentou o volume da TV assistindo ao show, mas sem olhar nunca pro rosto da platéia, receando encontrá-lo na multidão. Em algum bar de esquina, Tom Waits geme rouco "Well I hope that I don't fall in love with you".
E ela nunca ia permitir que ele soubesse.

http://www.youtube.com/watch?v=sdy4ell_dtM

Sentidos




olfato, paladar, tato, visão e audição.
o que fazer com eles ?? entregue-se e saberás .

terça-feira, 4 de outubro de 2011

PROVOCAÇÃO:

O que te excita?

ALGUMAS RESPOSTAS:

- Olhares acompanhados de silêncios, um toque firme e inesperado, lugares proibidos e pessoas proibidas.
- Funk, olhares provocantes, beijo no pescoço e na orelha, batom vermelho, putaria no ouvido.
- Falar besteiras com a pessoa certa.
- Falar palavras eróticas ao ouvido.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011


AVISO!
Não sei tirar essa tarja verde horrorosa hehehe

Amor Nuvem



Chagall

Amor Nuvem


Liniers.

Feito pra acabar.


www.ryotiras.com

Chocolate..

Para onde vai o meu amor quando o amor acaba?


Sophie Calle

Ensaio 3

No terceiro ensaio foi lançado um desafio: Todos deveriam apresentar uma performance sensual, fosse lenta e tivesse a duração no mínimo de uma música. Como parte do processo, optei por realizar também uma performance, para me colocar nesse corpo-em-risco junto dos performers. O ensaio foi realizado em um apartamento vazio, sem móveis e à luz de velas. O início do ensaio mais uma vez foi marcado pelo ritual do vinho: duas garrafas inteiras deveriam ser ingeridas em no máximo dez minutos. Após o ritual da bebida deu-se o início da sequência de performances. A primeira a ser apresentada foi a minha, do diretor. Em círculo, comendo uma maça verde, ia caminhando dentro desse espaço oferecendo ora um pedaço, ora uma peça de roupa. Em determinado momento todos vendavam os olhos. Posicionei-me na frente de cada um, nesse momento eu tirava toda a roupa, e colocava a mão desse performer no meu corpo para perceber e sentir um outro corpo nu. Se exijo deles uma disponibilidade psico-física, devo ter a mesma entrega. Deslizava a mão deles pelo meu corpo e ao final retirava a venda dos olhos do performer, que entrava em contato visual com essa nudez. Era lançada a questão: Você tem duas escolhas, ou o beijo mais doce da sua vida, ou o tapa mais forte, e se a pessoa não escolhesse, eu realizaria uma das opções com ela. Beijos na boca, beijos no rosto e um tapa. A sensação do tapa foi muito interessante, pois ela ja era esperada, e ao mesmo tempo entra uma questão do afeto e do desafeto. O afeto pela agressividade, pela dor, pela não aceitação. A sensação de quase humilhação, de frustração. A sensação que permaneceu após foi: o desafeto falou mais alto. Vida e Arte se misturando nas visões e concepções. Se que não foi por maldade o tapa, mas coloco em questão: Por que a agressão? Como seria se eu estivesse no lugar de cada um deles? Não conseguiria dar o tapa..Poderia levantar a mão pra mim, em mim, não para o outro. Incrível a mistura de sentimentos e questões. Após esse momento cada performance pode apresentar a sua versão da sensualidade, o que será relatado por cada um nos próximos posts.

O sabor...ENSAIO 3.


Ela vem suave, mas é como um susto! quando a vejo entro num estado inexplicável.Já não controlo mais nada, corpo, alma, pudor, caráter nada mais me serve.isto é o mínimo que eu tenha que pagar para ter sua presença.
Quando ela me aperta, sinto como se estivesse dentro de um tufão repleto de sentimentos, meu corpo grita, minha alma clama por alguns minutos de sua presença,meu caráter se transforma,meu limite nesta hora já não existe.
melhor de tudo e perceber que ela tem o controle sobre meu corpo,sem ela eu seria apenas um corpo repleto de medo ou até mesmo vazio.Sentir,desejar,odiar,ultrapassar,criar.ela tem o dom de me transformar.
Ela é única, ela é minha, simplesmente minha. A dor . ( Leandro Rocon )




O sabor...ENSAIO 3.



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Selvagem


Jogar o jogo do corpo não é uma aventura fácil. Jogar o jogo do corpo pode ser perigoso. O seu corpo, o meu corpo, o corpo do outro. O meu corpo no corpo do mundo. Quando ouviu a voz de fora que dizia lenta e calma o comando certeiro "toca teu corpo" ela quase teve medo. Mas ela gostava tanto do medo que tentou se forçar àquela sensação... quase nunca se sentia realmente encurralada, então ter medo era um pequeno fetiche. Mas o medo não veio. Pensou que conhecia cada polegada daquele corpo, daquele globo, daquele mapa, daquele terreno que carinhosamente um dia apelidaram de Deserto. "Deserto? Deserto, eu?" perguntou um dia ao moço entre sorrisos e mordidas sem se ofender em ser Deserto, sabia ela de sua condição de Deserto: se sabia árida, quente, por vezes seca e até misteriosa. "Deserto sim senhora" respondeu o moço... "Esqueceu que terra e fogo dá Deserto?"
Voltou. Respirou o corpo. Cheirou o corpo. Lambeu o corpo. Só não pensou o corpo. E as sensações que a punham presa em seu corpo lhe trouxeram a imagem das grandes caravanas que vagavam indômitas por quilômetros de areia e sol. Pra onde iriam? O que buscavam? Seria o caminho o objetivo em si de se perder em desertos de desertos sem fim?
Um olhar ao longe. Um dedo que toca o contorno sutil e arredondado: umbigo. Esse pequeno oásis. E nesse instante ela se sente tão perdida (e gosta) que sussura baixinho o presente secreto que se dá agora e para toda a vida: meu. Meu umbigo é o centro do mundo, meu umbigo é um oásis e essa é a água que não darei a ninguém.
"Se eu pudesse ser de alguém nesse mundo eu seria sua, mas certas coisas apenas não podem ser de ninguém". Relembra o moço por um instante e entende brevemente a solidão de sua liberdade: arredia em sua natureza, ela sabe que terra e fogo não são apenas Deserto, como também Vulcão.

domingo, 25 de setembro de 2011

Ensaio.

Segundo dia de ensaio prático.
Forcei um pouco mais os meninos..mais exaustão.Cada vez percebo que me interesso muito nesse corpo em risco, esse corpo que pode quebrar, danificar, parece que a atenção, o risco gera um estado que eu me interesso.Ver os meninos nessa situação em instiga bastante. Por incrivel que pareça, já no segundo site eles demonstraram um entrosamento muito forte, e uma disponibilidade para se arriscar.
O experimento:
Pedi a cada um que trouxesse uma comida, bebida e um óleo de corpo.Foram varias opções, Sundown, Oleo de Laranja, Bolo, biscoito, uva, melão, doce de leite, entre muitas opções. Alem dessa opção, eu levei duas garrafas de vinho. No primeiro momento, cada um faria um trabalho de olhos fechados, sentindo os volumes do corpo, o cheiro, o sabor. Depois de um tempo improvisando, ainda de olhos fechados, eles deveriam buscar outros corpos pelo espaço, e realizar a mesma proposta, o volume, o cheiro e o sabor. Ao longo do exercício, ia oferecendo vinho a cada um deles, com algumas comidas, cheiros, estimulando-os sensorialmente. Me surpreendeu a desinibição de permitir ser tocado e a coragem em tocar. Percebi que não houve pudor, e a sensação de estar do lado de fora como um voyeur, me colocou numa zona de ansiedade. O meu corpo em risco ao observar aquilo que poderia ir pra qualquer lugar ou mesmo a me envolver. A utilização dos alimentos cria uma imagem maravilhosa a meu ver..Me instiga, e me envolve a mistura dos corpos com a comida. Um momento muito especial foi quando as atrizes ou performers, realizaram um encontro sensual com o corpo semi-nú e molhado..O tocar dos corpos, a proximidade delas era uma sensação quase sexual sem pornografia. Ensaio gratificante e excitante.Ja não sei aonde esse banquete levará.

domingo, 18 de setembro de 2011

Elocubrações

Pano no rosto.
Óleo no corpo.
Abraço.
A dor.
A condução.
Cabelo agressivo.
Disputa gastronômica.
Olhar.
Línguas discursivas.
Animais seguidores.
Sangue.
Regurgitar.
Ovo.
.....

Ensaio.

Realizamos o primeiro ensaio prático. No primeiro momento foi apresentaod um breve resumo do texto O Banquete e da proposta. Foram cerca de 4 horas de ensaio corridos, divididos da seguinte maneira:
- Alongamento.
- Aquecimento.
- Fortalecimento.
- Pesquisa de Movimento.
- Improviso dirigido.

No improviso dirigido experimentamos alguns elementos enquanto estímulo:

- língua.
- cabelo.
- chocolate.
- engatinhar.
- câmera lenta.

O objetivo desses estímulos partiam imagens que iam sendo criadas no momento pelos próprios intérpretes no improviso. Particularmente a cena do chocolate e suas mil utilizações, me inspiraram a aprofundar nesse exercício. Em roda, cada integrante recebia um pedaço de chocolate, e em silêncio deveriam estabelecer uma relação com a comida e com alguém. A imagem do chocolate branco no corpo trouxe ao mesmo tempo uma imagem "nojenta" mas também sensual em alguns momentos, o que me pareceu interessante abordar nos próximos encontros.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

PROVOCAÇÃO:

Qual é o teu sabor?

Sobre o processo..

Ao longo da obra O Banquete, Platão nos proporciona um discurso reflexivo sobre o saber do Amor. Etimologicamente o vocábulo saber, vem do latim vulgar sapere, ter sabor, ter bom paladar, sentir os cheiros, de onde migrou para designar o sábio, sabidus em latim, aquele que percebe o mundo de modo organizado, usando os sentidos, a intuição. A partir dessa definição da palavra saber, a proposta do trabalho é utilizar-se desta concepção e definição do saber que se torna sabor, sendo ele, o sabor do conhecimento, o sabor próprio, o sabor do outro, do próprio alimento, o sabor da dor, do prazer, o sabor do erótico, o sabor da competição, o sabor do desafio, trabalhando esses diversos sabores cenicamente e sensorialmente. O ponto de partida então é uma competição, uma experimentação, onde os performers disputarão esse limite dos diversos sabores. Um banquete de objetos, comidas e corpos para se degustar, e ser degustado.