Esse é um blog destinado ao relato de um processo criativo para a montagem de uma perfomance inspirada no texto O Banquete de Platão. As provocações são feitas por mim, Leandro Menezes, aos performer´s participantes e contribuintes do trabalho.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Reflexão de um processo.
O resultado.
Esperei alguns dias para conseguir escrever sobre o processo. Precisei refletir, repensar, e analisar esse estágio da criação da performance Sabor – Primeiro recheio. No início do trabalho minha proposta era traçar uma relação etimológica da palavra Saber com Sabor. Ao ler o texto do Banquete, Platão me sugeriu uma forte ligação da disputa do conhecimento com os autores do texto. Todos falavam, competiam, triunfavam numa tentativa de ter o maior conhecimento ou saber sobre o Amor. Minha primeira relação com o texto foi de impaciência com essa prepotência de tornar algo tão abstrato em palavras e definições. Meu caminho foi traçado por uma serendiptidade do processo. Ao passar dos ensaios ainda sem conseguir entender o que buscava com esse conceito, fui lançando provocações aos participantes: Qual seu limite enquanto artista? O que representa o Amor pra você? Você já amou? Uma loucura por amor? Frases ainda sem um contexto com o trabalho. Chegou determinado momento que precisava vê-los criar sozinhos, eles mostrarem as referências artísticas próprias. Comecei a passar tarefas a serem realizadas por eles como dever de casa, pequenas performances, cenas, estímulos, filmes, tudo aquilo que enriquecesse o universo deles. O material começou a se tornar mais íntimo e agressivo, onde a cada momento um grau de exposição, intimidade e confiança foi surgindo. Em determinado momento me vi sem rumo, sem destino com tudo aquilo de material que eles traziam. Começamos a traçar uma dramaturgia a partir de palavras, de estados, de sentimentos e a tentar estabelecer relações entre eles. Comecei a me afastar da proposta inicial de tentar abordar a relação corpo/comida/sabor/saber e a partir para o prazer, o sabor da dor, o amor proibido, o amor sujo de comida que se torna sujo de valores, a entrar na zona do escatológico, o devorar-se, devorar o outro, oferecer –se. O grau de intimidade e entrega dos performers foi fundamental nessa etapa do trabalho, ao mesmo tempo que eles apresentavam dúvidas sobre o que ocorria em cena em relação a atuação. Assumir a performance enquanto obra, aceitar o corpo enquanto material e mídia daquilo que estava sendo construído. A nudez surgiu como peça fundamental e necessária para o trabalho. Sempre condenei qualquer tipo de auxílio antes de entrar em cena, para esse trabalho era exigido que cada intérprete bebesse uma garrafa de vinho para que todo o vinho do banquete fosse surgindo de dentro dos intérpretes. Se Platão apresenta um discurso verborrágico, vomitado sobre o amor, eu em minha prepotência de criador, devolvo e brindo a morte de Platão com o vômito dos performers e vinho fermentado de seus corpos. Eu devolvo a Platão o recheio de que somos feitos, vômitos, prazer, urinas, salivas e desejos. O Sabor – Primeiro Recheio tornou-se um trabalho indo contra a Platão, propondo apresentar aquilo que nos recheia e nos torna desejo, carne e censura. Apesar de todo o percurso de crises, serendipidades, esse trabalho me marca na possibilidade de fazer algo que eu acho feio, sujo, nojento, mas que nele ainda exista uma poesia e uma reflexão, e a possibilidade da aceitação de tornar arte aquilo que eu não abordaria ou teria curiosidade.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Ensaio 11 (ensaio aberto)
Ensaio 10
sábado, 3 de dezembro de 2011
Ensaio 09 (ensaio aberto)
Ensaio 08
terça-feira, 29 de novembro de 2011
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Foi você o erro mais bonito que eu cometi
O meu erro foi não entender a sua identidade mutante, cambiante. Seu doce azedo imprevisível. O seu "não quero mais". Eu nunca soube o que esperar dos seus cabelos.
Lembro de me surpreender com seu conforto com a cama pequena. "Assim a gente fica mais juntinho", você dizia sem saber que eu morria de medo de te sufocar (na cama, no beijo, em tudo) e passava horas apertado contra a parede só pra te dar espaço, só pra admirar a mansidão do seu sono, único momento em que você era minha de verdade. Havia qualquer semelhança com o que é frágil, como a bailarina da caixa de música que você tanto odiava.
Mas hoje a gente sabe, moça, que quem quebrou foi a cama de solteiro que reflete direitinho o estado no qual eu fiquei quando deixei você ir embora.
A gente sabe que desde que te vi, de vestidinho preto e sapato esquisito cantarolando alguma coisa ininteligível, que as coisas estavam claras como nos filmes: aquele seu jeitinho de boneca malvada ainda ia ser a minha ruína. Você me ganhou quando perguntou sorrindo se o ônibus passava por ali. Eu, um estranho, e você sorriu pra mim. Eu te escolhi ali naquela parada de ônibus e nunca soube entender direito como você me escolheu de volta.
Um dia eu esqueci o nome de tudo o que me cercava, tentei lembrar os nomes que te dei, mas havia esquecido todos eles. Fiquei vaidoso em não te querer mais, mesmo sabendo que te queria mais que aquela coletânea dos Beatles.
Me senti grande e forte em te fazer chorar.
Mas existem as músicas e os bilhetes do metrô. E eles me lembram que você foi o erro mais bonito que eu cometi. Tem sua escova de dentes na pia, do lado da sua coleção de esmaltes -todos verdes, "não sei porque você tem tantos esmaltes iguais" ... " não são iguais, amor, é verde mar, verde militar, verde selva, verde malte"
E agora que tudo acabou, agora que minhas mãos estão suspensas, imóveis, agora que me assumo sujo e feio, entendo a lógica cruel desse jogo. Eu que tinha tanto medo de te chamar de amor, um dia desses gastei uma caneta bic inteirinha escrevendo essa palavra de quatro letras no meu corpo como quem marca o gado a ferro.
Aí eu escolho um desses festivais que você sempre vai -péssima escolha- e tento falar com você, que só me olha com aquela cara de "estou feliz com meus novos melhores amigos temporários" que só você tem. Maldita.
Faz assim: não me olha. Faz melhor: só me olha. Me olha com essa sua cara de tanto faz pra que eu tenha certeza de que a gente nunca aconteceu. Você não sabe, mas eu andei te olhando de longe e você estava com essa mesma cara de "sou doidinha, está tudo bem" enquanto desmoronava por dentro, que eu sei.
Eu olho você e tento ver mais uma vez v essa sua armadura estúpida de garota bem resolvida com a qual a gente só tem uma chance. Pra minha surpresa, te vejo deslizar tão tranquilamente pelos lugares, pelos grupo de amigos dos amigos, que tenho medo.
Isso te coloca tão distante de qualquer ser de all star e barba por fazer, que mesmo que você sorrisse gentil e maliciosa, haveria alguma coisa a temer. Seus cabelos talvez. Havia alguma coisa naquele seus cabelos que me intimidava. Havia alguma coisa na vermelhidão esvoaçante dos seus cabelos que me dizia- e dizia a todos: não erre, você só tem uma chance.
Você é estranha. Seus quadris falam quando você anda e isso me dá medo, garota.
A máquina do tempo do filme da Sessão da Tarde talvez fosse útil pra voltar agora àquele momento em que eu te quis na minha mão só pra te quebrar, porque a bailarina da caixinha de música era você.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Curiosidades
Brasil- 724
Alemanha- 23
Rússia- 14
Estados Unidos- 6
Portugal- 3
Canadá- 1
Espanha- 1
México- 1
Ensaio 07
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Sonhar

Esta noite eu estava dentro da bolha que é formada na ponta de uma folha, La dentro era tudo lindo, eu sonhava,sentia, vivia ...
Dentro da bolha eu tinha meu próprio jardim,gostava mais de girassois, até por que eles faziam o papel de sol dentro da pequena bolha.eu correia entre eles, tentando criar um vento bem forte, para manter o ar da bolha mais agradável, eu fazia isto todos os dias.
Até que um dia, decidir não fazer nada, afim da bolha ficar bem coloridinha até ser desfeita...
Ela então foi desfeita,eu cair por horas, flutuava entre as outras folhas e bolas, mas daí em dei conta que todas as pessoas que estavam na suas bolhas tinham feito o mesmo, percebir Que lindo que é sonhar
Sonhar não custa nada
Sonhar e nada mais
De olhos bem abertos
Que lindo que é sonhar
E não te custa nada mais que tempo...
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Ensaio 6
O último ensaio foi o momento mais forte de experimentação.Poucas palavras ao chegar e já nos entregamos à pesquisa.A partir de rolinhos e apoios no chão, os performer´s começaram a explorar todo o espaço da sala movendo-se, chegando a uma exaustão. Permaneceram 30 minutos em atividade intensa, sem pausa, nem descanso. O objetivo era inseri-los num estado performativo a partir do cansaço do corpo, onde as defesas começam a cair e o corpo a reagir psicofisicamente, novas aberturas criativas. Após um ápice na exaustão, o grupo foi ao oposto, a câmera lenta e o controle muscular. Nesse momento da retenção de energia, o grupo permaneceu 20 minutos, reagindo positivamente a estímulos que iam surgindo. Após a exaustão pedi a dois performers que se posicionassem de pé abraçados. A tempos queria testar uma imagem de nudez. Uma das performers ia despindo os dois abraçados. A imagem da roupa sendo tirada não foi interessante, mas os dois corpos nus abraçados tinham um impacto maravilhoso, indo de uma admiração das curvas à anulação do corpo. A medida do tempo, os outros performers iam se despindo e se unindo a esse abraço. Mais uma vez a imagem era impactante com o abraço coletivo. Aos poucos o grupo foi buscando chão, e num movimento de passar entre o corpo do outro, iam transformando-se em massa humana, bem interessante também o corpo disforme. Após a experimentação do nu, discutimos o procedimento que teve opiniões diversas, uns se sentiram “estuprados”, outros a vontade, outros libertos. Após a discussão, caa integrante apresentou sua cena. Pude finalmente conferir o “vômito” em cena. Um dos intérpretes realizando sua cena, envolvido com o alimento e sua textura nojenta acabou por vomitar em cena, o que gerou uma imagem também interessante para se abordar. Cada vez mais me interessa essa visão sado masoquista, fetichista e subordinada, porém, a visão nuvem também me ronda enquanto composição coreográfica. O que será ao final? Uma incógnita...
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Vaivém
A cafeteira nova que eu comprei que não supera a antiga no quesito imitar a voz do Tom Waits na hora de passar. Algumas noites passo lá embaixo e vejo sua luz acesa. Grudada na parede frontal da minha memória tem uma fotografia daquele seu conhecido sorriso de chegada, aquele de longe, a meia boca, doida e apaixonadinha por mim. No prédio em frente ao meu um casal briga, vejo os lábios dela mexerem, mas nunca consigo entender nada. Eu fico imaginando como dizer se é muito cedo pra telefonar e dá na caixa de mensagem e eu sinto uma puta vergonha de chorar feito homem na mesa daquela nossa temakeria de sempre, a dos sábados meio-dia.
Mas as coisas continuaram acontecendo. Meu curso de gastronomia para acampamentos, o colega que namora uma garota que tem uma amiga pra apresentar chamada Raquel que é loira, tem 21 aninhos, usa jaqueta e shortinho e também curte Pavement e outros, mas não ando muito a fim desses troços de encontro. Já sei que sexta vou foder de forma insana e descompromissada uma louca à toa com sobrancelha mais escura que a tinta no cabelo, e depois vou pra casa dormir até tarde. Você foge da minha intensidade, e mal sabe que também posso ser bem superficial, se eu quiser. Parei de fumar pela quinta vez hoje. Passo na frente do Abbey Road Bar e não arrisco entrar. Por onde vai você?
E as coisas continuam acontecendo. O alarme de um carro toca sem parar. Você ouviu de alguém que ando deprimido e ficou contente e perguntou mais coisas sobre mim que eu sei, também tenho minhas fontes. Você se tornou uma pessoa totalmente diferente depois que eu mudei muito. Lembro você e tenho febre. Na orla, os navios soltam fumaça de despedida do cais. Eu corro sem sentir as pernas. Furo no meio de uma dupla de gatinhas fazendo jogging na direção contrária. Não posso explicar, mas me dá uma sensação que está tudo bem, de verdade. Posso me sentir mudando pra melhor, sei que estou esquecendo, tudo passa, eu passeio. Meu personagem não convence.
Aí seu pai resolve morrer e pega todo mundo de surpresa. Parece que o Doutor falou enquanto tirava as luvas cirúrgicas que deu o máximo de si, mas infelizmente. Nada é, tudo está.
Você vem. Eu sei que você sabe que eu sei que só eu sei como te tranquilizar no primeiro abraço. Soluça no meu peito e encharca minha camiseta do Manchester United que eu trouxe de lá. Não entendo o que você grita. Não parecia, mas o velho gostava de mim, sei pelo LP do "The Dark Side Of The Moon" que ele achou na garagem e mandou perguntar se eu queria ou então ia pro lixo. E quando ele ficava puto porque eu estacionava no portão? E quando ele dizia naquele tom rústico e colonial "tu cria uma filha com todo cuidado pra ela se apaixonar pela pessoa errada", aí balançava a cabeça e dava um gole no vinho tinto dominical.
Seus olhos de semáforo me fogem: não. Me olha e pisca lento: atenção. E depois desvia a pupila pra esquerda: pode vir. Não é culpa nossa, quando a gente vê, tenho minha língua na sua virilha sem recordar o primeiro toque no braço. É tão pra ontem esse querer que eu queria penetrar direto pela veia. Você finalmente pega no sono e me faz prometer que não vou soltar sua mão. Chega uma hora que a verdade dá as caras e eu te tenho em mãos, mais uma vez. Não está tudo bem agora, pequena. Mas vai ficar.
É como um balão de gás helio. Solto no céu, chama atenção. Preso na mão é só um enfeite. Deixa voar, quem sabe ele volta pra tua mão.
Gabito Nunes
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
domingo, 30 de outubro de 2011
sábado, 29 de outubro de 2011
Mulher que diz tchau
Levo comigo o gosto do vinho na boca. (Por todas as coisas boas, diziamos, todas as coisas cada vez melhores que nos vão acontecer.)
Não levo uma única gota de veneno. Levo os beijos de quando você partia (eu nunca estava dormindo, nunca). E um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação, podem dizer a ninguém o que foi.
Eduardo Galeano, em Vagamundo.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Experimentação:
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Instinto Animal

A saliva da tua língua
Os mamilos duros
A tua vagina
Vem até mim
Vem masturbar-me
Chupar-me até me vir
Vem sem parar
Deixa-me segurar
No teu cabelo
E penetrar
Quero vir-me
Onde estás molhada
Com desejo e pronta
A ser possuída
Sem lutar
Vem ter comigo, vem perder-te comigo, não faço promessas
Mas posso fazer-te perder em orgasmos fulminantes e provares o meu doce esporrar… Leandro Rocon
temores e incertezas

E a correnteza dos acontecimentos, me fazem flutuar pelos caminhos
Rodeada de temores e incertezas
Vejo no novelo de lã, a esperança de que os dias frios se desencadeiam.
De que a garoa se estabilize e faça presente nos nossos contos!
Vislumbrar as desvairadas damas soteropolitanas
E me alimentar dos cheiros doces que exalam de seu corpo esguio!
Finalmente recuperar a essência de me sentir vivo e de ainda sentir fascínio pelo novo!
Shirley Souza! Leandro Rocon ...
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Ensaio 5
Veja-me

sexta-feira, 14 de outubro de 2011
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Grande Museu das Inutilidades

Todas as coisas espalhadas pelo chão do quarto demonstravam quem eu era. Os papéis jogados, as roupas amassadas, as cartas esquecidas, a poeira acumulada faziam parte do quebra cabeça caótico e evidente que eu me tornava. Às vezes acredito que as coisas nossas não falam apenas de nós como para nós também. E aquelas coisas bagunçadas eram o sinal claro do abandono que morava em mim. As coisas não estavam certas. Eu, que sempre fui tumulto, sentia a necessidade real de colocar as coisas em gavetas, as coisas, as pessoas, os sentimentos. Cada coisa em seu lugar. Colocar na caixa dos papéis todos os papéis, separar a roupa suja, a cara limpa, as mãos vazias, jogar fora tudo aquilo que não cabia mais. Ou escolher aquilo que não serve, mas que merece ser guardado com carinho e cuidado. Talvez algumas coisas não precisem de gavetas e sim de baús. Outras muito poucas merecem redomas, relicários.
Mas com tudo confuso, jogado, é difícil definir ou perceber o que realmente tem valor. Escolher o lugar, decidir onde ir: "e você, bilhetinho tão antigo, lixeira ou coração?" E se eu errasse? E se conservasse tudo aquilo que era inútil? No fundo foi isso que sempre fiz: construi um grande museu de inutilidades. Estava cercada de tudo o que importava, mas que nada valia.
De repente tudo fez sentido. Entendendo a lógica daquele lugar foi parar concretamente na dimensão do invisível. Meu quarto se tornou onírico e enorme, eu olhava para o alto e não conseguia enxergar o fim. Era a concretude da metáfora, eu estava no Grande Museu das Inutilidades.
No Grande Museu das Inutilidades moravam coisas velhas e coisas muito muito velhas. O Grande Museu das Inutilidades tinha muitas galerias. Na Galeria das Palavras moravam os elogios não ouvidos, as lembranças escritas, os bilhetes secretos, os falsos gemidos e os amores sussurados. Na Galeria das Palavras encontrei um caderno escrito GRAÇA com uma frase entre parenteses na capa que dizia "Me senti agraciado". Dentro do caderno estavam todas as vezes em que fui segura, leve e graciosa. Santa Eu mesma Cheia de Graça. O caderno cheirava a vento e tinha gosto de boca. Quando aberto revelou o dia em que amei o Poeta, a noite em que dancei de salto pela primeira vez, meu corpo nu na piscina numa tarde muito quente.
Respirei com gosto de delícia. O caderno se fechou.
Subindo e subindo escadas me vi dentro do Salão do Movimento. Era sorte estar ali, pois como o próprio nome sugere, essa ala do museu mudava sozinha de lugar. Dentro dele estavam grandes quadros que mostravam cenas curtas, todas com a mesma legenda:
"Movimento: do latim movimentu, ato de mover, trocar de posição. Mudança pela qual um corpo está sucessivamente presente em diferentes pontos do espaço. Ação, variedade, animação"
Nos quadros a queda de bicicleta que me rendeu um braço quebrado e um gesso no braço e desenhos no gesso. As borboletas miudas e os peixes multicoloridos que me saltavam infinitos e incontroláveis dos cabelos, do vestido, do sexo, da boca, toda vez que a minha primavera chegava. A queda no cascalho. O choro no meio da chuva. O amigo que dançava balé. Estava tudo lá. Abandonei minha condição passiva de visitante e comecei a girar contagiada pelo ritmo, caindo assim na armadilha da sala que se moveu ardilosa para outro lugar.
Explorei todas as galerias. Na Ala do Desalento encontrei as cartas que nunca mandei. No Hall da Vergonha as minhas feiuras, o medo de errar, a resistencia em sorrir pras fotos, os dentes tortos.
Minhas memórias: minhas memórias inventadas. A invenção colossal da realidade.
Nas Memórias Inventadas o mercado de pulgas dançarinas, a estrela que nunca fui, o navio pirata que me carregou pelos sete mares: tudo que me tirava a certeza, tudo o que era deliciosamente fabricado. O Banquete infinito do meu desejo... Nas Memórias Inventadas uma caixa escrito Desamor e dentro dessa caixa estava você.
.Bárbara Figueira.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
sábado, 8 de outubro de 2011
Os Idiotas - Lars Von Trier
Ensaio 4
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Maldita Vênus em Capricornio (ou um conto erótico sem nenhuma sacanagem)
Estacionou num lugar barulhento, muita gente, estranhos lhe acenavam e enquanto a mulher negra cantava no palco com sua voz potente, enquanto uma jovem fumava um cigarro pela primeira vez, ela esbarrou no moço de dreads. Todas as garotas do lugar o desejavam. Ela não. Ela nem notou. Ela nem percebeu que aquele era o "cara lindo da banda totalmente demais". Ela nem sabia que uma semana depois seriam companheiros de trabalho, ele o novo ator, não sabia que dividiriam a cena, a dança, a música, a maquiagem, a água... que um mês depois a água dividida seria a da saliva da boca molhada no meio da seca daquele lugar. Depois da boca, a cama, o carro, e mais uma vez o palco, e mais uma vez o abraço, mas nunca nunca o amor.
Eram dois bichos, nunca fizeram amor, o amor é que os fez selvagens, indomáveis entre gritos primitivos e olhos que nunca paravam de se olhar. Eram livres, ele em sua mansidão linda e doce que revelava vez por outra um desdém que ela preferia não conhecer. Ela, dona de si, das suas contas, da sua música, dos seus sapatos, dos seus pés calçados em flor e cetim, dos seus cabelos, do seu humor ácido, sagaz, cruel. Dizem por aí que todo mundo quer viver um grande amor... desses que Hollywood ensina pra gente, desses de tirar o fôlego, o ar, os pêlos, desses de querer pra sempre. Eles não, ao menos não um com o outro. Sabiam de si, sabiam de si com o outro e do outro com o mundo: ela não podia ser de ninguém e ele só podia ser do mundo inteiro.
Vieram saídas, passeios, gargalhadas em dias de sol entre sorvetes que sujavam a boca inteira. Vieram histórias, vieram conversas, trocas, subidas silenciosas em árvores altas, banhos no lago, pés na água enquanto olhava aquele corpo tão tão bonito... veio um dia um "eu adoro essa música, dou ela pra você" respondido com um "a gente podia viajar, né?" e aquilo que era tão constante e tão despretensioso começou a crescer, e a pesar.
"Respirar e regar, pra crescer todos os dias". Mas aí aquele sentimento sem nome começou a tomar espaço demais."Não é natural?" todos diriam. Mas não, não se crescesse em apenas um deles. E nessa loteria do azar a escolhida foi a moça. "Não, não, não!!!!" ela repetia. Queria ser divertida, queria continuar brisa, raio de sol... nuvem não. E agora que estavam tão próximos porque estragar tudo com o egoismo de um sentimento tão sozinho, tão dela?
Não, não, não.
E se esforçava a cada encontro para parecer tranquila, falava de mil homens enquanto seu coração só sussurava "escolhe eu."
Chegou a tentar falar, mas ele talvez pressentindo a carga enorme que a sinceridade traz em si, ignorou. Não por maldade, mas por mansidão, aquela mansidão que ela já não achava mais tão bonita assim. E foi embora sozinho esse moço, pro show que prometeu assistir com ela.
"Não destruir nada". Decidiu com um sorriso falso. "Ok, está tudo bem" foi a solução estúpida que encontrou para que nada desmoronasse, além dela mesma.
Engoliu a seco. Era forte. "Isso um dia passa", pensou como todo fraco faz.
Aumentou o volume da TV assistindo ao show, mas sem olhar nunca pro rosto da platéia, receando encontrá-lo na multidão. Em algum bar de esquina, Tom Waits geme rouco "Well I hope that I don't fall in love with you".
E ela nunca ia permitir que ele soubesse.
http://www.youtube.com/watch?v=sdy4ell_dtM
terça-feira, 4 de outubro de 2011
PROVOCAÇÃO:
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Ensaio 3
O sabor...ENSAIO 3.

Ela vem suave, mas é como um susto! quando a vejo entro num estado inexplicável.Já não controlo mais nada, corpo, alma, pudor, caráter nada mais me serve.isto é o mínimo que eu tenha que pagar para ter sua presença.
Quando ela me aperta, sinto como se estivesse dentro de um tufão repleto de sentimentos, meu corpo grita, minha alma clama por alguns minutos de sua presença,meu caráter se transforma,meu limite nesta hora já não existe.
melhor de tudo e perceber que ela tem o controle sobre meu corpo,sem ela eu seria apenas um corpo repleto de medo ou até mesmo vazio.Sentir,desejar,odiar,ultrapassar,criar.ela tem o dom de me transformar.
Ela é única, ela é minha, simplesmente minha. A dor . ( Leandro Rocon )
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Selvagem

Jogar o jogo do corpo não é uma aventura fácil. Jogar o jogo do corpo pode ser perigoso. O seu corpo, o meu corpo, o corpo do outro. O meu corpo no corpo do mundo. Quando ouviu a voz de fora que dizia lenta e calma o comando certeiro "toca teu corpo" ela quase teve medo. Mas ela gostava tanto do medo que tentou se forçar àquela sensação... quase nunca se sentia realmente encurralada, então ter medo era um pequeno fetiche. Mas o medo não veio. Pensou que conhecia cada polegada daquele corpo, daquele globo, daquele mapa, daquele terreno que carinhosamente um dia apelidaram de Deserto. "Deserto? Deserto, eu?" perguntou um dia ao moço entre sorrisos e mordidas sem se ofender em ser Deserto, sabia ela de sua condição de Deserto: se sabia árida, quente, por vezes seca e até misteriosa. "Deserto sim senhora" respondeu o moço... "Esqueceu que terra e fogo dá Deserto?"
Voltou. Respirou o corpo. Cheirou o corpo. Lambeu o corpo. Só não pensou o corpo. E as sensações que a punham presa em seu corpo lhe trouxeram a imagem das grandes caravanas que vagavam indômitas por quilômetros de areia e sol. Pra onde iriam? O que buscavam? Seria o caminho o objetivo em si de se perder em desertos de desertos sem fim?
Um olhar ao longe. Um dedo que toca o contorno sutil e arredondado: umbigo. Esse pequeno oásis. E nesse instante ela se sente tão perdida (e gosta) que sussura baixinho o presente secreto que se dá agora e para toda a vida: meu. Meu umbigo é o centro do mundo, meu umbigo é um oásis e essa é a água que não darei a ninguém.
"Se eu pudesse ser de alguém nesse mundo eu seria sua, mas certas coisas apenas não podem ser de ninguém". Relembra o moço por um instante e entende brevemente a solidão de sua liberdade: arredia em sua natureza, ela sabe que terra e fogo não são apenas Deserto, como também Vulcão.