segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ensaio 5

Ensaio mais leve..Creio que ao passar do tempo, dos ensaios, começou a surgir uma inquietação de como transformar tudo isso em "cena". Confesso que passei a semana pensando em começar do zero, ir para algo mais firme a meu ver. "Ceninha" bonitinha, bem feitinha, redondinha. Porém escutando a trilha, e relendo todas as anotações, confesso que a cabeça deu um nó, uma explosão, e depois virou a calmaria. A meu ver, esse discurso de Platão é uma destruição do Amor. No momento em que defino que isso é amor e isso NÃO é amor, transformo em palavras uma sentimento, ou melhor, traduzo intersemioticamente uma experiência pessoal. Cheguei a definição de que todo aquele discurso platônico sobre o AMOR, nada mais é do que uma destruição do próprio numa tentativa de construção. Eis que surge uma luz à criação. As experiências começaram a seguir uma linha mais destrutiva do amor, do tesão. Não me interessa falar do amor nuvem, por mais que eu ache lindo, prefiro ir no conflito, naquele ponto o qual as pessoas pulam: o sexo. Todos sentem prazer, tesão, se masturbam, já assistiram algum filme pornô, já pensaram coisas proibidas, enfim, todos já passaram pela zona proibida ou não falada, pelo menos nós do elenco, rsrs. Como exercício, pedi a todos que apresentassem cenas românticas, e todas, exceto a de um dos performers, seguiu a visão do amor nuvem, que apresentava uma coisa quase "brega", e isso era bacana de ver, pois mesmo os que rezlizavam a cena demonstravam aquela sensação de: Que coisa brega eu estou fazendo? Por causa dos elementos, dos textos, das intimidades utilizadas como cena. Não era ruim, até por que acredito que tudo é material, sem julgamentos de valor, mas esse brega é como eu enxergo esse amor nuvem, enquanto diretor. Foi um bom experimento, até por que saíram coisas bem diferentes e que podem ser utilizadas, e mesmo não sendo usadas, serviram enquanto exercício artístico. O aquecimento foi com brincadeiras infantis, subir em árvore, pique-pega na árvore, pique-alto, jogos que exigiam fisicalidade, porém também cumplicidade entre eles. Dentro da sala, realizamos o exercício do cego, onde o grupo inteiro, exceto um integrante, fecha os olhos e andam pelo espaço, deixando toda a responsabilidade de não bater na parede ou entre si, naquele que permaneceu de olhos abertos. Bem proveitoso, algumas batidas, mas confianças reforçadas. Após esse exercício, realizei um percurso em câmera lenta, dificuldade já demonstrada pelo grupo todo. Durante o exercício fui tranformando-o naturalmente em cena, onde alguns integrantes filmavam outros que buscavam seduzir as câmeras de quem o assistia (esse da câmera de filmagem é realizado dentro da Cia AntiStatusQuo, porém com outra versão). Primeiro uma das meninas utilizava essa sensualidade, e durante sua cena molhei todo o cabelo dela. Uau! A cena ganhou uma dimensão enorme!Ela permaneceu quase 40 minutos apenas jogando cabelo no corpo, e usando as câmeras. Durante a cena dela outra performer mulher se uniu a ela. Eram duas mulheres explorando a fisicalidade, a expressividade e a sensualidade feminina. A partir desse momento naturalmente as cenas e propostas iam surgindo. Cada momento um integrante se unia ao improviso. Certo momento eram dois homens e uma mulher, todos bebiam o vinho, a quantidade que quisesse, e interagia. Momentos de submissão, sensação de voyeur, de humilhação, de provocação, e a percepção de que apenas o insinuar tem o peso na cena, não precisa realizar o ato, mas a provocação em si já é o bastante e interessante. Certo momento o jogo ficou mais forte com a agressividade. Um dos performers permanecia de olhos vendados enquanto outros poderiam abordar seu corpo da maneira que quisesse. As reações agressivas, mais tensas foram bem bacanas também. Outro experimento bem forte foi com a tinta. dentro de um pote os performers mergulhavam o rosto, esfregando-o e lambuzando-o totalmente dentro do pote. Ao levantar, sem blusa, a tinta ia escorrendo pelo pescoço, peito, traçando veias escuras ao mesmo tempo em que se colocava um ovo cozido dentro da boca. A medida que o ovo ia sendo mastigado, e caindo pela boca, por cima da mancha preta, surgia uma sensação fúnebre..Pra mim essa imagem era a destruição da vida, do outro, do amor..Ou eu destruo o amor, ou ele me destrói.

2 comentários:

  1. UAU!
    Acho que as coisas "escritas" fazem muito sentido pra mim. Talvez eu tente colocar o meu desconforto em palavra, mas me expressar melhor... mas agora entendo (e sensitivamente) toda a sua condução.
    obrigada mais uma vez.

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  2. Sentir um território cafona no ultimo ensaio,mas foi bom, por que neste área de amor nuvem eu fico muito travado, daí observo o meu limite, fico sem noção das coisas, me sinto ridicularizado,confuso. Todas estas etapas do banquete tem sido um divisor para muitas coisas !!! O pós ensaio e a parte mais sofrida, por que fico me quetionando o tempo todo,mas se existe sofrimento é por que me afeta, então algo em mim esta se movimentando. mas não quero ficar no questionamento sempre, acredito que tem coisas que devemos enfrentar, ou seja IR ... Não gosto de pensar EM montagem toda marcadinha, bonitinha, acho que o povo precisa ver e se questionar, tentar quebrar a cabeça, não gosto das coisas certinha ...nunca trabalhei com performance, nem tinha noção do que era,mas agora agradeço o convite. este trabalho tem rasgado minha mente, meu corpo, meus conceitos e tabus... Leandro Rocon

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