sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

VISÃO DO ELENCO.

BÁRBARA FIGUEIRA -

“O maior sentido de nosso corpo é o tato. Provavelmente, é o mais importante dos sentidos para os nossos processos de dormir e acordar; informa-nos sobre a profundidade, a espessura e a forma; sentimos, amamos e odiamos, somos suscetíveis e tocados em virtude dos corpúsculos táteis de nossa pele.”
(Lionel Tayler)

Quando recebi o convite pra trabalhar com o Leandro Menezes, fiquei extremamente instigada... assim, automaticamente. Primeiro porque adentrar o universo criativo do Leandro resultado em investigação, em descoberta. E também porque eu nunca sei certo o que esperar de sua condução. Talvez nem ele saiba ao certo (sempre tive receio de pessoas que possuem certezas) , ou saiba como quem tateia pequenos vestígios na penumbra, vestígios esses que se intercalam entre claro e não tão claro assim. O que mais me encanta no trabalho do Leandro é que ele tem coragem de se perder, e assim sentir o caminho que o corpo quer seguir. Vou me reiterar: Leandro Menezes sabe o caminho, mas ainda assim dá espaço ao inesperado, ao imprevisto, à incerteza. E esse é um solo fértil para o processo criativo. Dessa vez nosso mergulho seria em O Banquete, de Platão.

Dividir a cena nesse caso é caminhar deliciosamente na escuridão, mas caminhar de mãos dadas, mãos atadas ( uma mão costurada à outra com linha, sangue e suor. E essa não é tarefa fácil). O pronome possessivo do processo se dá no plural: nosso. A acolhida é tão constante, as descobertas são verticais e Leandro nos faz sentir em estado de solidão compartilhada. Solidão porque o mergulho para o mais fundo de nossa cabeça-coração é inevitável. Compartilhada porque o processo é coletivo, porque a proposta nos conecta, porque o risco presente e constante nos dá muitas alternativas, mas nós escolhemos estar juntos e assim permanecer.

Em algum momento do processo eu me esbarrei comigo mesma, e foi incômodo. Eu algum momento eu estava lá tão presente que tive medo, porque eu vi a minha feiura. Feio? Mas como pode ser feio rememorar o seu encontro com o Amor? Eu, que já assumi a minha pieguice desde que me vi escrevendo em cadernos de caligrafia, me senti deliciosamente confusa com a escolha do Leandro: falar de amor -a partir de um grande discurso sobre o Amor- sem palavras. O Amor está no corpo e esse mesmo corpo fere, fede, morde, cospe, morre. A profundidade da superfície que te constitui: O mais profundo é a pele. (VALÉRY, Paul)

As provocações assertivas e instigantes (qual seu limite enquanto artista?) me fizeram escrever, escrever, escrever, refletir e desmitificar ideias sobre beleza, sobre o eu, sobre presença. Então banqueteamos. O Amor virou Sabor e nós, performers, armados de nós mesmos – e tão somente isso- nos vestimos do outro. Então a minha escrita transbordou. O maior desejo da minha palavra era virar suor. E assim me vi nua, totalmente vestida de minha própria pele.

LEANDRO ROCON -

Começo meu texto com uma explicação que eu me cobrava a tempotodo no processo do sabor, me perguntava isto é arte ??? Para o Wikipédia Arte é (Latim Ars, significando técnica e/ou habilidade) geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e idéias, com o objetivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores, dando um significado único e diferente para cada obra de arte. Hoje eu vejo que eu não precisava de uma explicação clarasobre a arte, eu precisava viver a arte,foi o que eu fiz sem perceber. Todas estas explicações do Wikipédia atravessaram meu corpo, minha alma, minha vida e principalmente meus limites. Sim !!! Reconheço que nunca tive coragem de peita- lo, me olhar no espelho e perceber que a artes não existe limite, existe disponibilidade.
Neste processo estive disponível de corpo e alma, mas meu foco estava errado, meu foco estava no meu limite, me perguntava, me questionava sobre o mesmo. Cheguei a ter vergonha do meu próprio corpo, por que a sociedade colocou um limite na minha alma,querendo que eu acreditasse que eu deveria ter um corpo perfeito, uma estética intocável.Eu nunca acreditei que poderia participar de algo como o processo do sabor, olha que engraçado. SABOR É : conjunto das sensações de gosto e aroma. Quantas pessoas saíram da apresentação tendo diversas sensações, questionamentos, os próprios atores (lembrando que não era interpretação) no decorrer do processo ficavam em crises, o sabor entrava em nosso corpo e alma e sacudia tudo como um terremoto. QUEM SOBREVIVE A UM TSUNAME CHAMADO SABOR 1° RECHEIO, muda a visão da vida como artista, não coloca nunca mais um ponto final do seu próprio limite, pode colocar um virgula. Aprendi que a performance é uma entrega, um jogo de parceria, percebi que nosso corpo e o material de trabalho mais valioso, com ele podemos mudar idéias, lançar para a platéia questionamentos que estão escondidos, quebrar tabus que foram impostos por nós mesmo. Saber que não vamos agradar a todos, mas ter a segurança do que estamos fazendo, perceber que o processo muitas das vezes e para você que esta fazendo, isto aconteceu comigo, o sabor foi criado pra mim... Hoje sou outra pessoa, outro ator, um novo performance e principalmente um novo sonhador. Agradeço a todos que participaram comigo desta conquista,desta nova etapa. Aprendi,cresci, chorei,mas vivi ...Umas das coisas que ficou muito clara, foi o comando do processo, a mão que guiava o barco, sem este controle ou muitas das vezes descontrole da direção fez com que, a confiança fosse a base de tudo,a direção tinha uma linha muito bem traçada, ou não, mas sabia conduzir com toda a perfeição, um cuidado de mestre.

ALEXANDRE FLEURY -

Quando eu fui convidado a participar do processo, estava no começo do primeiro semestre do curso superir de Artes Cênicas e aceitei de imediato, pois tinha certeza que seria uma grande oportunidade de aprendizagem. Foram quatro meses de muitas experimentações e descobertas, a cada ensaio surgiam novas e perigosas idéias, que eram capazes de alterar tudo que ja havia sido planejado.Foi um trabalho complexo e complicado, enfrentamos crises e adversidades, e ao mesmo tempo que tinhamos o comando de um diretor, nós acabávamos agindo por conta própria e fazendo nossa própria direção. O Leandro sempre agiu democraticamente e nos dava liberdade para opinar e discordar.Eu amadureci pessoal e profissionalmente ao longo desse período, fui capaz de descobrir limites e superá-los, aprendi a trabalhar em equipe e a perceber a dificuldade dos que estiveram comigo nessa jornada, e assim fomos capazes de alcançar nossos objetivos com êxito. Graças ao "Sabor - O Primeiro Recheio" ampliei e até mesmo modifiquei minha visão de arte, que antes era apenas focada a coisas "convencionais" e "belas", contudo arte vai além desses conceitos, é aquilo que sentimos e desejamos expressar à nossa maneira.

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