Sabor – o primeiro recheio (Lemar Rezende)
Ousado, curioso e corajoso, uma performance na qual podia-se ter, e tinha-se varias interpretações. Uma selvageria com amor, fome, sedução, sem pudor nenhum. Olhos no qual se comiam sem os olhares mas com atração e sedução, perseguição por parte de si, partes do outro, perseguição por desejo de acabar com sua fome, uma fome não interpretada, mas entre elas o amor, o desejo, o outro. Todos procurando sabores diferentes, odores diferentes, os tornando um só, os tornando gostosos e amoroso. Mas o deixando com um sabor mais curioso possível, o deixando com um valor insaciável a todos os olhares, fazendo-o alguns até a colocar para fora por nojo. Mas não seria este nojo o fator mais intrigante? O fator na qual todos estariam ali, para descobri sua resistência, mas também descobrirem os seus desejos? Suas loucuras? Um corte de gillete, a dor demonstrada por gotas de sangue, o desejo de se alimentar um do outro, não pensando em seu estado, na sua aparência no seu cheiro,somente deixando se levar por suas vontades, os seus desejos e o seu amor. Um toque diferente que causava um arrepio até a espinha, mas que mostrava a excitação pelo toque e a vontade do querer mais. Suspiros que os deixavam sem fôlego, causando uma dificuldade na respiração, mas uma reação naquele toque para dar um ainda melhor, não somente um toque, mas uma mordida, uma arranhada, um cheiro ou um beijo. O sabor criado por algo assim, é curioso, é gostoso, é ruim e é nojento. Mas causa provocação, causa desejos, causa vontades, extintos naturais que está adormecido dentro de nós e que consegue meche com a nossa cabeça, os deixando vivos e deixando-os acordados, mas para experimentamos, arriscamos ou simples tentamos demonstrar de uma outra forma algo curioso no sabor do gosto do recheio em nossos amores.
Sabor - primeiro recheio (Kamila Rodrigues)
Impacto. Se fosse pra descrever essa performance em uma palavra seria esta. Apesar de todos os outros significados que possa ter, o fato do atores estarem nus chegava a ser constrangedor para algumas pessoas, mas ao mesmo tempo era hipnotizante porque de alguma forma tentamos significar tal ato. A ausência de palavra nos faz ler as outras linguagens, seja ela a do olhar, ou a do toque, até mesmo o da ausência. Sem palavras faladas tudo vira conversa paralela, como se os atores estivessem conversando sem parar. Vômito. O que pode ser? Apenas uma forma do corpo expelir o que faz mal? Ou devolvendo ao mundo o que está saturado em si? Nojento? Pessoal? Será que o ato de vomitar era uma conversa, ou debate onde cada um queria por pra fora aquilo que consumiu. Sempre. Sem cessar. Atração, magnetismo, conexão, força, energia. Alguma coisa ligava os atores de uma maneira que os tornavam quase animalescos. Possessão. Um desejo de chamar atenção, de ser notado, de ser percebido sem ao menos dizer uma só palavra. Uma transcrição de pensamentos e anseios. O público muitas vezes roubava a cena com suas caras e bocas, saídas inesperadas, ânsias de vômito e realizava um espetáculo a parte como se realmente estivesse sentido todas as sensações inusitadas que prendiam ao público. Quando fiquei sabendo que performace foi inspirada no Banquete de Platão pensei em qual antagônico foi, pois Banquetes são convidativos e no caso desse em especial tenho quase certeza que a maioria se sentiu repelida. De qualquer forma o público não esquecerá das imagens daquele dia, afinal foram marcados nas ideias, nos conceitos e no estômago.
Sabor- Primeiro Recheio (Eduardo Bomtempo)
'Antes de traçar qualquer comentário, deixo claro que sou 'novato' como plateia ao tipo de espetáculo performance. Por isso mesmo, minha opinião se resumirá a estabelecer relações de significados que me vieram a tona na perfomance.
Sobre as ideias:
A performance, baseada em um texto de Platão sobre o amor, faz uma subversão ao conceito deste e a obra do filósofo grego. Observa-se e adiciona-se a essa subversão o uso da metalinguagem como critica a um amor polido e 'platônico'. Digo sobre a utilização de metarecursos pois se percebe naqueles corpos nus e ébrios a discussão sobre o a discussão do amor em si. O grotesco e o primitivo nos fazem vomitar nossos conceitos e desejos, partindo de movimentações do corpo em cena e de outros recursos cênicos. Se vomita o texto, as ideias, os corpos, os desejos, e a questão vem: o que é o amor? qual seu sabor? Não há resposta clara, apenas uma critica aos conceitos definidos, ao amor platônico e a devolução dos conceitos de Platão na forma do vomito literal.
Sobre os recursos:
A ambientação nauseante e enebriante que abre a perfomance já nos deixa claro: o que vai ser sentido pode-se não ser de fácil digestão. Em um primeiro momento, os corpos nus posicionados de maneira cíclica para, ao fim, quebrar com essa ideia de amor bonito, único e convergente. A simbologia da comida, a típica refeição brasileira, nos lembra a todo instante que somos nos e os performers um só corpo e ali estamos inclusos. Remete também ao nosso dia a dia, um dos nossos momentos de prazer na vida adulta, um dos prazeres mais primitivos da humanidade, o alimentar-se. Tudo sem pudor e com muita entrega. As movimentações dionisíacas dos performers fizeram esse enlace com o prazer sujo e carnal que há pudor em se mostrar. Corpos unidos, suados e entregues ao ritmo frenético de uma música com sons do corpo humano, exponenciando ainda mais esse cenário de tensão carnal. A orgia final junto àquelas pessoas fétidas e cheiro inclausurante fecham o espetáculo, como quem cospe na nossa cara para dizer que somos feitos disso: de sujeira e de amor.
Sobre os atores:
Penso também sobre a questão dos artistas a superação de seus limites enquanto corpo em cena. O estar em palco, o se dedicar, se entregar, se expor e superar-se também não seria uma prova máxima do conceito platônico? O verdadeiro sabor daqueles desabores estariam nestes corpos entregues e na nossa identificação, mesmo que tímida.